O dia que percebi que meu intercâmbio valeu a pena
Saber se o seu intercâmbio valeu a pena, normalmente é colocado de uma maneira simples e objetiva. Eu mesmo já falei sobre os objetivos do intercâmbio e de como estudar no exterior me ajudou a me recolocar rapidamente em meio a crise de 2009.
Para mim, a descoberta de que o intercâmbio valeu a pena foi um momento muito específico… E não tem a ver com aprender inglês, conhecer novos países ou conseguir um aumento salarial.
É muito mais profundo do que isso. De fato, me tornei outra pessoa (e iisso acontece frequentemente quando eu viajo).
Vamos ao que interessa! =o)
As últimas emoções do intercâmbio
Nos últimas dias do intercâmbio eu estava “sem casa”. Já tinha passado minha vaga da casa alugada para uma outra intercambista que começara sua jornada enquanto a minha se encerrava. Isso significa que nos últimos dias eu passei dormindo cada dia em um lugar. Alternei entre viajar pela Irlanda e dormir na casa de amigos em Dublin e Galway.
No último dia em específico, estava na casa do lendário Mocotó (proprietário da já extinta “Mocotour”) – ajudou muita gente na Irlanda – e me ajudou também neste dia.
Nestes últimas dias, foram poucas as horas de sono, e neste último, nenhuma hora de sono. O motivo prático é que o voo era bem cedo e eu precisava acordar antes do sol nascer. O motivo óbvio, é que minha cabeça estava a mil…
Será que estou fazendo a coisa certa ou deveria ter estendido mais minha jornada?
Será que tudo mudou ou está igual no Brasil? Vou conseguir emprego nesta crise?
Eu aproveitei realmente ao máximo? O que eu faria diferente? Do que me arrependi? Se é que me arrependi…
Foram algumas poucas horas no colchão improvisado no chão. Nenhum minuto dormindo…
O dia D
Deu a hora e me levantei. Arrumei a cama improvisada e recolhi minhas coisas. Com o movimento, o Mocotó acordou e me ajudou com as coisas até o táxi chegar.
Aeroporto, avião, decolagem, voo… Tudo isso seguindo o protocolo. A atividade toda me distraiu um pouco. O sono venceu pontualmente a ansiedade e o corpo descansou um pouco na poltrona do avião.
A chegada, diferente da ida, solitária. Esperar a mala na esteira. Andar pelos longos corredores do aeroporto de Guarulhos.
O sentimento era parcialmente de “o sonho acabou”. Era uma mistura muito grande de sentimentos.
Na saída, encontro meus familiares que foram me buscar. Eles me fazem perguntas impossíveis de serem respondidas aquedamente.
E aí filho? Tudo bem?
Aí, conta tudo…!
Aproveitou muito?
Com as perguntas impossíveis, o grande cansaço e ansiedade ainda nas veias, as respostas foram poucas. Foram curtas. Foram lacônicas, quase inúteis.
E assim, o assunto rapidamente acabou.
O grande aprendizado que fez o meu intercâmbio valer a pena
Com o silêncio e a enorme distância que separava o aeroporto de Guarulhos e o bairro de Interlagos onde eu morava, tive bastante tempo para refletir.
Vim olhando pela janela do carro e reparando que tudo, 11 meses depois, era exatamente igual. Av. Tiradentes, Túnel do Anhagabaú, Av 23 de Maio. Alguma alegria finalmente me atingiu ao ter o sentimento “casa” ao ver lugares que me relacionei muito proximamente nos anos anteriores ao intercâmbio.
Já em um cruzamento a menos de 1km da minha casa, veio o grande momento de epifania:
Tudo é possível. Tudo é permitido.
Mas Homero, isso parece não fazer sentido. Por que esta reflexão neste momento?
Eu também não sei dizer o porque… Só sei dizer que antes deste momento, eu era uma pessoa cheia de certezas. Cheia de certos e errados. Cheia de brancos de pretos.
Depois disso, depois deste momento especificamente, consegui enxergar as diversas cores e possibilidades da vida. Viver fora do país, conhecendo muita coisa, gente, comidas, bebidas diferentes. Vivenciando o novo e o diverso diariamente convergiu naquele momento único de epifania no cruzamento da Av. Rio Bonito com a Av Antonio Barbosa da Silva Sandoval.
10 anos depois de ter voltado do meu intercâmbio, muitas memórias já são confusas ou até já foram perdidas. O inglês, que evolui bastante na época, já perdi um pouquinho novamente. Mas esta epifania, este aprendizado, é algo que sinto viceralmente, todos os dias. Me deu empatia, me permite respeitar mais o próximo, me faz querer que todos possam passar pela experiência insubstituível do intercâmbio.
E aí vamos fazer intercâmbio? =o)